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Um doce para quem adivinhar o autor de tão preciosas linhas

Ler parece meio fora de moda. Precisamos de imagens, movimento, som. Carecemos de estímulos sensoriais para despertar. Crescemos as telas, aceleramos a ação, aumentamos o som. Como se a vida moderna, ao invés de agitar nossas sinapses, as calcificasse. O sentir passa a ser fator de volume e intensidade.

É nesse turbilhão que se insere o apelo à interatividade. A nova fronteira do estímulo sensorial são esses simulacros de participação – que ensaiamos no cinema, nos games, nos ARGs – e toda a parafernália tecnológica que não cessam de nos excitar. O sussurro do vento, o rugir do mar, a voz a capela, o canto do realejo não despertam mais.

Minha mãe dizia que, quando tomava o bonde no Rio de Janeiro, adorava concentrar-se na ponta da orelha de algum passageiro à sua frente. Invariavelmente, após alguns instantes, ele virava o rosto e respondia ao chamado. Hoje, entupimos nossos tímpanos com fones de ouvido, penetramos no game, e de todo jeito ausentamo-nos do mundo simulando participação nas narrativas.

Não é saudosismo, é como tem de ser. E se a nova descoberta for a imersão neurológica, que assim seja.

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